quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

domingo, 16 de dezembro de 2012
Dieucel Pierre[1]
Haiti e Migração

O homem desde sempre se muda para outros lugares.  Essa mudança ocorre por diversas razões como guerra, crises políticas, religiosas e econômicas. Assim, todos os anos devido a essas situações, centenas de milhares de indivíduos se põem a caminho em busca de melhores condições de vida.
O início do ano de 2010 para muitos foi bem sucedido e para outros foi o início marcado por tragédias. Assim, enquanto uns comemoram, outros derramam lágrimas.  Desse ano para cá, tem-se notado que as mudanças climáticas vieram ocasionando vários problemas em diferentes países, acarretando mais e mais deslocamentos. Observa-se que as mudanças climáticas e a mobilidade humana são duas temáticas que vêm sendo muito debatidas em várias instituições acadêmicas, nos meios de comunicação social, e tornando-se objeto de pesquisa em vários campos de estudo. Várias questões são colocadas, por exemplo: como proteger o planeta diante das mudanças climáticas e como atender essas pessoas em deslocamento em um mundo em crise?  O que isso nos diz?
Das tragédias decorrentes de desastres naturais, no ano de 2010, a mais violenta e destrutiva foi a de 12 de janeiro de 2012 que veio agravando a situação do povo haitiano e causando a saída de muitos haitianos em busca de trabalho. Na Comunidade Internacional, o Brasil, país do futuro, foi um dos que abriu suas portas aos haitianos.
O Brasil, hoje, conta com uma população de 193 milhões de habitantes. É um país formado por imigrantes, e já em 1818 adotou sua primeira política imigratória trazendo, primeiramente, suíços para Nova Friburgo e, sobretudo, alemães, os quais se estabeleceram em maior número na região do Sul do país. A partir da crise do cativeiro, foram trazidos para a lavoura, italianos, espanhóis, portugueses, japoneses, entre outros. No pós-guerra, o Brasil privilegiou a vinda de mão de obra especializada, em especial através dos refugiados de guerra, pois já havia implementado seu processo de industrialização. Entre os anos de 1950 e 1980, a imigração para o Brasil praticamente cessou e foi a vez da migração interna ocupar o cenário. Neste período, o Brasil deixou de ser um país com sua população majoritariamente morando no campo para se transformar num país urbano, com grande concentração nas Regiões Metropolitanas.
A partir dos anos 1960, novos imigrantes começaram a chegar: bolivianos (que já se faziam presentes nas décadas anteriores), coreanos, e os que fugiam das ditaduras do Cone Sul – chilenos, uruguaios, argentinos e paraguaios. Já na década de 1980, os bolivianos que chegavam mudaram de perfil: não mais estudantes ou profissionais liberais, mas trabalhadores braçais para o ramo das confecções. Já no final dos anos 1990, ingressaram outros imigrantes, vindos dos países andinos (peruanos e colombianos), mas a maior novidade foi a chegada de africanos, em especial vindos de Angola e da República Democrática do Congo, na condição de refugiados. Todavia, hoje o Brasil recebe, embora de maneira pulverizada, africanos de muitos países.
Após o violento e devastador sismo de 2010, foi a vez dos haitianos chegarem ao Brasil. Muitas das vítimas e sobreviventes, na tentativa de reescrever a gênese de um sonho, caminharam para outras terras. Alguns para a América do Norte (Estados Unidos e Canadá), outros para América Latina (Brasil, Equador, Argentina...) e alguns outros para outros países.
Para o Brasil, nunca houve migração haitiana, apesar de o Brasil ser um país com fama de acolhedor. Depois do abalo, isso não tardou para acontecer e hoje, há migrantes haitianos no Brasil: Os Novos Rostos da Imigração para o Brasil” [1].
A presença deles abre grande interesse no campo antropológico, cultural, religioso, etc. Assim, muitos estudantes se interessam em conhecer a história do Haiti e a sua migração. No entanto, há muitos mal-entendidos quanto ao país e essa atual migração. Muitos pensam que o Haiti é um país paupérrimo, como a mídia vem divulgando, como se lá só houvesse pobreza. Essa insistência sobre a pobreza do Haiti é uma questão de interesse que vem adotando a Comunidade Internacional. Haiti não é um país pobre senão um país empobrecido pelos imperialistas.
No que diz respeito à atual migração haitiana para o Brasil, seu ingresso deu-se, sobretudo, pela fronteira amazônica. Entretanto, há que se ressaltar que poucos deixaram diretamente o Haiti para se dirigirem ao Brasil. De onde saíram? Poucos saíram do Haiti. A grande maioria já estava em outros países, como Argentina, Peru, Equador, República Dominicana, Chile, etc. Os migrantes haitianos que saíram do Haiti começaram a chegar ao Brasil depois do acordo firmado pelo Brasil.
O Haiti é um país muito brilhante, com uma grande variedade de recursos naturais, artes e uma cultura diversificada. Infelizmente, não é conhecido por essas características, mas sim pela pobreza que as mídias do mundo insistentemente fazem questão de divulgar. O que é absolutamente falso.
Historicamente, o Haiti foi conquistado pela Espanha e colonizado pela França. Saqueado totalmente por eles. Em busca de libertação e liberdade, foram organizadas várias revoltas, sendo a mais marcante a cerimônia de Bois-Caiman[2]. Ali, os haitianos se revoltam contra os colonizadores franceses em busca da abolição da escravatura. Naquela época, a França tinha o maior Exército e foi derrotado por Haiti. Vale a pena ressaltar que o vodu, na história do Haiti, sempre desempenhou papel muito importante e decisivo. Não há como falar da história do Haiti sem falar do vodu, ou seja, falar do vodu sem falar da história do país.  Sendo assim, falar da independência do Haiti é ver o Haiti como dono das palavras: LIBERDADE e LIBERTAÇÃO.
Algo que pode lhes parece incrível, mas verdadeiro, Haiti ocupou a República Dominicana por 21 anos.
No decorrer da história do país, devido a sua instabilidade política, os Estados Unidos decidiram de ocupá-lo militarmente. Depois da ocupação, o Haiti foi governado por ditaduras, sendo as mais sangrentas, as dos Duvalier (pai e filho). No regime dos Duvalier, muitos haitianos tiveram que se exilar, principalmente nos Estados Unidos e Canadá, mas também em Martinica, Guadalupe, Guiana francesa, etc. 
Uma revolta popular depõe o filho Duvalier do poder o qual se exila na França, marcando o fim do duvalierismo. Eleições democráticas foram organizadas, tendo sido eleito um padre salesiano, Jean-Bertrand Aristide[3]Desde então, o Haiti, ao longo de sua história democrática, tem trazido uma frequente instabilidade política e crises repetidas, que nunca parecem ser resolvidas.  A Comunidade Internacional se vê sempre no "vai e vem" em tentativa de ajudar a resolver as crises. Quando uma crise está resolvida, surgem outras. Pode-se perguntar: será que há algum interesse por trás dessas crises?
O problema do Haiti, como sempre tenho repetido, não é nada mais do que um problema político-social, no qual derivam os vários problemas existentes no país, agravados pelo  maldito terremoto.
Diante desse panorama, os estudantes CINTHIA KELLY MACEDO e GABRIEL BMATTI COSTA, em busca de obtenção de bacharelado, desejam apresentar ao grande público brasileiro um estudo sério e profundo sobre a atual migração haitiana para o Brasil.

www.dieucel.blogspot.com






[1] Foi um dos títulos dos meus artigos no qual expliquei um pouco a trajetória da migração haitiana. Depois de ter percebido a desordem nessa migração, questionei também o por quê o governo Brasileiro não assina um acordo com o Haiti sobre a quantidade de haitianos que poderia receber.  Alguns meses depois, o governo brasileiro assinou esse acordo sobre o efetivo de haitianos que vai receber por mês para o Brasil.
[2] Bois-Caiman é uma cidade ao norte do país, onde foi organizada a cerimônia da revolta.
[3][3] Jean-Bertand Aristide foi um padre salesiano que criticava o regime de Duvalier (filho) de tortura. As suas homilias chamavam atenção dos fiéis, assim aos poucos se tornou o amigo dos mais pobres daquele bairro do centro da capital onde ele exercia sua função sacerdotal. Foi eleito presidente e logo derrotado por um golpe de Estado e foi para o exílio. Voltou ao país para continuar seu mandato. Foi reeleito mais tarde, mas foi vítima de um novo golpe de Estado, foi para exílio novamente. Hoje vive no Haiti dedicando-se à educação.





[1] É religioso dos Scalabrinianos. Ultimamente tem trabalhado com os migrantes haitianos. 

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